quarta-feira, 7 de abril de 2010

Notas de uma loba cardíaca


Eu sei que ele ainda vive. Escondido. Nômade na selva da minha alma.
Na mata bruta do meu coração. Eu ouço seus passos estalando folhagens e gravetos secos na madrugada ainda há pouco adormecida. Sinto seu cheiro, ouço sua respiração. E farejo, no recém amanhecido do dia, as marcas mal apagadas das pequenas fogueiras ascendidas, cautelosamente, durante à noite, pra sobreviver às madrugadas mais frias do meu coração.

Ele não sabe que o trago em vigília desde sua partida.
Das noites inteiras que venho farejando seu rastro.
Guardando minhas fronteiras. Afastando outros da espécie que lhe ameaçam o território, que lhe queiram a extinção.

Sua fuga, e sua sobrevivência, são igualmente mistérios para mim.
E sua insistência em permanecer foragido desola meu bando.
Torna pesado de mais os cuidados à minha matilha. A sua proteção.

Outros seres têm sondado minhas terras, noite e dia.
Têm se arriscando em pequenas expedições, e eu não mais vou protegê-lo.
Sua ausência já não honra as terras que me conquistou.
Que um dia as fez bravamente sua.
E posto que a espera se mostra inútil, já não merece minha proteção.
(Gab Miglino)

O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
(Elisa Lucinda em Safena)

Um comentário:

O Tempo Passa disse...

Oh! My God! Será este intruso alguém que eu conheça?
Parabéns pelo texto. Emocionante e belo!